Conviemos em que o falar descambava; concordámos em passar p’las brasas; quanto ao que tivéssemos a acrescentar não importava. - A rede balança na seiva, na árvore, no vento, na dança, na erva, na aragem, o corpo sovado. - O bom papa João ante o interlocutor bem ouvia, intimamente sopesando que dissesse. - Pipilarem negras andorinhas dum límpido cristal pelo ar desmaios. - Joga-se ténis; baterem-se bolas, a ecos espaçados; nenhum telefonema nas imediações; portas fechadas contra a rua; provisões, com os vizinhos, nos elevadores; televisão desligada; réstia campestre de paisagem; máquina da escrita arrumada; o inenarrável antigamente dum andar. - Talvez que certos gestos não contem, mas que, palavras duma palavra, povo emergindo, noutro astro, sem qualquer prazo, juntos, acampemos. Necessário consumir o violento grito: Atrocidades, tortura os poemas clamam… Paulo VI ofereceu tabaco a Podgorni em reunião à mesma mesa. Porque há o Vietname, electricidade, guerra química, marés negras, refugiados, desalojados, perseguidos, deslocados, napalm, genocídio, carbono, bombas, estátuas, dias e noites sem sono, pessoas detidas por ideias… Navegar estes tempos com uma doença ansiosa serve de entretenimento contra silêncios mastigados. - Ao jardinzinho eu e tu íamos expeditos; claramente desperto, um sol expandia. - ‘Se O omitirem, as pedras e os menino O gritarão, loucura para o mundo, sabedoria para os simples, única medida…’ Ser-vos-á servida quantidade acubulada, a transbordar: Fará com que vos senteis à mesa, preparará refeição, e vos atenderá, caso estejais vigilantes, dias, noites, cingidos rins, vestidos com rigorosíssimo traje, e compunção. ‘O sol se deu resplendendo, as boas e as más horas, igual pra justos e injustos.’ Não criastes, artistas, filósofos, economistas, estudiosos da praxis, sociólogos, um mundo ao avesso, sufocados p’la vossa absoluta cultura, com o Sim e o Não a equivalerem-se? Que é daqueles que tratastes de somenos? ‘Um Brot, um Brot, um Brot!’ ‘De profundis clamavi!’ Donde esse vosso estranhamento perante a morte, outro tempo, natural como respirar. Pedi que a Hora não vos interrompa em meia viagem. Alcance-se do Amigo Único A Antiga Palavra: ‘Venenos, espancamentos, pestes, serpentes não temereis…’ -
- Desperta, enche da flor em neve, vinho, pão meus olhos, minha terra. - Melrinho fiel, que cedo me visitas, saltitando esvoaçante, a cantarolar cantitos puros absolutos, sílabas dum chão empedrado e turvo na antemanhã liberta das rosas; vou para filmar, e idealizo uns planos picados para acompanhar-te a divagação magnífica, enquanto me deixas por erva húmida, antes dum sol desconhecido. Final das Sonhadas Palavras (2ª Edição, pronta)
Conviemos em que o falar descambava;
ResponderEliminarconcordámos em passar p’las brasas;
quanto ao que tivéssemos
a acrescentar
não importava.
-
A rede balança
na seiva,
na árvore,
no vento,
na dança,
na erva,
na aragem,
o corpo sovado.
-
O bom papa João
ante o interlocutor
bem ouvia,
intimamente
sopesando
que dissesse.
-
Pipilarem
negras
andorinhas
dum límpido
cristal
pelo ar
desmaios.
-
Joga-se ténis;
baterem-se bolas,
a ecos espaçados;
nenhum telefonema
nas imediações;
portas fechadas contra a rua;
provisões, com os vizinhos,
nos elevadores;
televisão desligada;
réstia campestre de paisagem;
máquina da escrita arrumada;
o inenarrável antigamente dum andar.
-
Talvez que certos gestos não contem,
mas que, palavras duma palavra, povo emergindo,
noutro astro, sem qualquer prazo, juntos, acampemos.
Necessário consumir o violento grito:
Atrocidades, tortura os poemas clamam…
Paulo VI ofereceu tabaco a Podgorni em reunião à mesma mesa.
Porque há o Vietname, electricidade,
guerra química, marés negras,
refugiados, desalojados, perseguidos, deslocados, napalm,
genocídio, carbono, bombas, estátuas, dias e noites sem sono,
pessoas detidas por ideias…
Navegar estes tempos com uma doença ansiosa
serve de entretenimento contra silêncios mastigados.
-
Ao jardinzinho
eu e tu íamos expeditos;
claramente desperto,
um sol expandia.
-
‘Se O omitirem,
as pedras e os menino O gritarão,
loucura para o mundo,
sabedoria para os simples,
única medida…’
Ser-vos-á servida quantidade acubulada, a transbordar:
Fará com que vos senteis à mesa, preparará refeição,
e vos atenderá, caso estejais vigilantes, dias, noites, cingidos
rins, vestidos com rigorosíssimo traje, e compunção.
‘O sol se deu resplendendo,
as boas e as más horas,
igual pra justos e injustos.’
Não criastes, artistas, filósofos, economistas,
estudiosos da praxis, sociólogos, um mundo ao avesso,
sufocados p’la vossa absoluta cultura,
com o Sim e o Não a equivalerem-se?
Que é daqueles que tratastes de somenos?
‘Um Brot, um Brot, um Brot!’ ‘De profundis clamavi!’
Donde esse vosso estranhamento perante a morte,
outro tempo, natural como respirar.
Pedi que a Hora não vos interrompa em meia viagem.
Alcance-se do Amigo Único A Antiga Palavra:
‘Venenos, espancamentos, pestes, serpentes não temereis…’
-
- Desperta, enche da flor em neve, vinho, pão meus olhos, minha terra.
ResponderEliminar- Melrinho fiel, que cedo me visitas, saltitando esvoaçante, a cantarolar
cantitos puros absolutos, sílabas dum chão empedrado e turvo
na antemanhã liberta das rosas; vou para filmar, e idealizo uns planos
picados para acompanhar-te a divagação magnífica, enquanto me deixas
por erva húmida, antes dum sol desconhecido.
Final das Sonhadas Palavras (2ª Edição, pronta)