domingo, 6 de setembro de 2009

ORAGO: SANTO ANTÓNIO




2 comentários:

  1. Conviemos em que o falar descambava;
    concordámos em passar p’las brasas;
    quanto ao que tivéssemos
    a acrescentar
    não importava.
    -
    A rede balança
    na seiva,
    na árvore,
    no vento,
    na dança,
    na erva,
    na aragem,
    o corpo sovado.
    -
    O bom papa João
    ante o interlocutor
    bem ouvia,
    intimamente
    sopesando
    que dissesse.
    -
    Pipilarem
    negras
    andorinhas
    dum límpido
    cristal
    pelo ar
    desmaios.
    -
    Joga-se ténis;
    baterem-se bolas,
    a ecos espaçados;
    nenhum telefonema
    nas imediações;
    portas fechadas contra a rua;
    provisões, com os vizinhos,
    nos elevadores;
    televisão desligada;
    réstia campestre de paisagem;
    máquina da escrita arrumada;
    o inenarrável antigamente dum andar.
    -
    Talvez que certos gestos não contem,
    mas que, palavras duma palavra, povo emergindo,
    noutro astro, sem qualquer prazo, juntos, acampemos.
    Necessário consumir o violento grito:
    Atrocidades, tortura os poemas clamam…
    Paulo VI ofereceu tabaco a Podgorni em reunião à mesma mesa.
    Porque há o Vietname, electricidade,
    guerra química, marés negras,
    refugiados, desalojados, perseguidos, deslocados, napalm,
    genocídio, carbono, bombas, estátuas, dias e noites sem sono,
    pessoas detidas por ideias…
    Navegar estes tempos com uma doença ansiosa
    serve de entretenimento contra silêncios mastigados.
    -
    Ao jardinzinho
    eu e tu íamos expeditos;
    claramente desperto,
    um sol expandia.
    -
    ‘Se O omitirem,
    as pedras e os menino O gritarão,
    loucura para o mundo,
    sabedoria para os simples,
    única medida…’
    Ser-vos-á servida quantidade acubulada, a transbordar:
    Fará com que vos senteis à mesa, preparará refeição,
    e vos atenderá, caso estejais vigilantes, dias, noites, cingidos
    rins, vestidos com rigorosíssimo traje, e compunção.
    ‘O sol se deu resplendendo,
    as boas e as más horas,
    igual pra justos e injustos.’
    Não criastes, artistas, filósofos, economistas,
    estudiosos da praxis, sociólogos, um mundo ao avesso,
    sufocados p’la vossa absoluta cultura,
    com o Sim e o Não a equivalerem-se?
    Que é daqueles que tratastes de somenos?
    ‘Um Brot, um Brot, um Brot!’ ‘De profundis clamavi!’
    Donde esse vosso estranhamento perante a morte,
    outro tempo, natural como respirar.
    Pedi que a Hora não vos interrompa em meia viagem.
    Alcance-se do Amigo Único A Antiga Palavra:
    ‘Venenos, espancamentos, pestes, serpentes não temereis…’
    -

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  2. - Desperta, enche da flor em neve, vinho, pão meus olhos, minha terra.
    - Melrinho fiel, que cedo me visitas, saltitando esvoaçante, a cantarolar
    cantitos puros absolutos, sílabas dum chão empedrado e turvo
    na antemanhã liberta das rosas; vou para filmar, e idealizo uns planos
    picados para acompanhar-te a divagação magnífica, enquanto me deixas
    por erva húmida, antes dum sol desconhecido.
    Final das Sonhadas Palavras (2ª Edição, pronta)

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